Capa do LP Origens - 1973 |
Querendo ou não querendo, todo mundo entra em clima de carnaval, e para quem escuta samba carioca desde pequeno, não é dificil vir à memória rapidamente a figura de Martinho da Vila Isabel, ou Martinho da Boca do Mato, como era chamado antigamente.
Popularmente conhecido entre o povo pé-sujo-quero-ser-legal-e-falar-que-sou-sambista por conta do clássico Pequeno Burgues, Martinho, após ganhar notoriedade, enfrentou muitos puristas em sua caminhada musical e ouviu muitos deles ( talvez os antecessores dos atuais pé-sujo-quero-ser-legal-e-falar-que-sou-sambista? Talvez né?) dizendo que aquilo que fazia estava "errado" musicalmente, que o andamento não podia existir daquela maneira e toda desculpa a mais que puderam arrajar para o Sr. Devagar.
Martinho da Vila sempre se reinventa a cada momento, cada som e é um grande escutador/pesquisador da música negra mundial. Com essa deliciosa curiosidade de escutar, Martinho presenteia o Brasil e nos remete aos tempos de criança travessa, cantando uma lenda do folclore de Angola.
Essa música tem grande importancia, pois a conheci em minha fase adulta, e conheci antes de escutá-la. Conheci num sonho.
Sonhei que minha mãe disse pra não sair às ruas naquele dia. Acordei, intrigado e assustado, fui à casa de Emoge, ou se preferirem, minha prima Silvia, relatei meu sonho e pedi dormida na casa dela. No dia seguinte um conhecido apresentou à mim e minha prima um disco de lendas angolanas e lá estava o meu sonho prensado num vinil! Vim saber o que a letra dizia por conta do encarte que acompanhava o disco, e era exatamente como eu havia sonhado, um aviso para que ficasse em casa!
Logo após escutarmos a faixa minha prima se lembrou que Martinho da Vila gravou a mesma lenda em 1973 no LP Origens.
Abaixo, a letra:
Som Africano
Martinho da Vila
Munami Zeca
Munani cotundê cotundegole
Munami zê caiê movungumone
Ai munami zambiamiê
Ai munami zambiamiê
Munami ze caiê muvungumone
Munami umbolo gui sambila querie
Munami ze caiê muvungumone
Marimbondo de Aguilu Mata Guendele cumusseque
Guaiazengue uio Mucua tulo jicau
Po Po Po marimbondo de aguilu mata
ai ai ai messunguê polonguê, ai ai ai messunguê polonguê
Gadifanda naqui soiaa Galanê uma tapetu mondongui beta
Mama Lala, Mama laê laê
Mama Lala, Mama laê laê
Aiue gonduê
Abaixo, uma tradução parcial:
Munami Zeca:“Meu Filho José, não saia de casa, há muito perigo nas ruas.
Se você ficar, sei que vamos amanhecer juntos.
Mas como sei que quando eu adormecer você vai sair, peço a Nazambe,Deus,para trazê-lo de volta inteiro”.
Marimbondo:“O menino foi ao museque(favela de lá).
Os marimbondos incharam-lhe a cara.
Ai,ai,ai, messunguê, polonguê: minha cara empolou. Ele volta correndo pra casa, certo de que vai levar uma surra da mãe, e mais tarde, talvez, outra do pai”.
Mama Lala:“Rainha dos Invejados”, é um bloco de rua, inimigo do grupo Cidrália (espécie de Cacique de Ramos versus Bafo da Onça, no Rio)
Se você ficar, sei que vamos amanhecer juntos.
Mas como sei que quando eu adormecer você vai sair, peço a Nazambe,Deus,para trazê-lo de volta inteiro”.
Marimbondo:“O menino foi ao museque(favela de lá).
Os marimbondos incharam-lhe a cara.
Ai,ai,ai, messunguê, polonguê: minha cara empolou. Ele volta correndo pra casa, certo de que vai levar uma surra da mãe, e mais tarde, talvez, outra do pai”.
Mama Lala:“Rainha dos Invejados”, é um bloco de rua, inimigo do grupo Cidrália (espécie de Cacique de Ramos versus Bafo da Onça, no Rio)
E o vídeo