É triste sim, perceber que, embora tenhamos, hoje em dia, blogues tuíters e todo sortimento de veículos que nos façam ser notados, na vida física a coisa não se dá dessa maneira.
Estava fumando no quintal, realizaei que talvez eu cante rap não só por atençao visual e musical, que é o que eu realmente amo, mas por ser um dos poucos momentos onde posso completar uma frase, expor um raciocínio sem ser interrompido, o que me aconteceu a vida inteira, na família por ser o mais novo, na rua por ser muitas vezes o único negro no grupo de amigos, no trabalho por não ter formação superior. Sempre quieto ou vetado no meio da linha de raciocínio.
A idéia agredida assim que nascia como som, como palavra, assim fui andando até onde estou, sempre tendo minhas frases ceifadas em sua metade. Minha dificuldade de me pronunciar em público vem do pavor de passar vergonha por, mesmo tendo certeza, achar que não saberia o que dizer, ou de ser inquerido sobre meu ponto de vista.
As vezes acho que me iludo e o cantar me vale por uma dose de morfina, onde sorrio, digo, gesticulo e sou. Sim, ali no palco sou. Quando desço do palco deixo de ser aquela construção, me sinto pequeno novamente. Sei que no dia que virá, tentarei dizer minha idéia e ela será cortada com PORQUÊS. Minhas teorias serão ouvidas somente por bons modos do outro ( se hoverem bons modos ) e em seguida interrompidas, muitas vezes por um tema que somente apetece à outra pessoa.
Poderia culpar as tradições cristãs, a hierarquia que exige que você respeite seu pai e seu pai não te respeite. Poderia sim, até por que essa é uma lembrança muito forte de momentos em que me calei. Por medo. Muito medo.
Lembro-me de uma vez em que fui esperar o pai no ponto de onibus, ele estava chegando do trabalho. Assim que ele desceu do coletivo, corri para lhe dar boas-vindas ( um dia eu amei meu pai, sim ) fui recebido, aos 07 anos de idade, com tapas na cara e uma borracha que estava ali pela rua. Mas a tradição manda que você abaixe sua cabeça, chore, se magoe só por que a pessoa em questão é seu pai. Mas não culpo, pois minha tendência é culpar a mim mesmo.
Pode ser também que eu seja um para-raio de pessoas egoístas e sem-educação, que dizem "como c tá" como quem diz "salve". Ninguém é perfeito, mas não é possível alguém ser tão danado assim.
O que me deixa sem rumo é saber que a única solução seria ser respeitosamente ouvido, ter as idéias e opiniões acatadas e testadas. Se dessem errado, eu respeitaria, mas o problema é que na equação tentativa-e-erro a minha vez é ignorada até mesmo antes da tentativa. É uma sensação horrível essa, de ser o caçula do mundo, acolhido por ser tido como o menos capaz e calado por ser tido como o menos experiente.
Muitas vezes falhei em assuntos que domino, pois lá estava essa espécie de trauma-do-caçula. Um sentimento de incapacidade, de inutilidade que esmaga tudo o que sinto que poderia render naquele momento.
Noutros momentos falei e tive o crédito da idéia roubada na minha frente. O resultado foi calar-me novamante após o acontecido.
O engraçado é que no final da conta eu sempre tenho que acatar a ótica alheia, mas fiz um balanço e vi que muito poucas vezes fui acatado. Isso gera um desgaste e desinteresse em participar em conjunto de diversas atividades, já que sou requisitado, mas como representante na maioria das vezes figurativo, uma peça de presépio, como garrafa no engradado, nunca como pessoa de influência segundo vivência e experiência de fato.
Julio Cezar Lopes de Souza.
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